Chama I

...fazia de novo aquele caminho
percorria de novo os passos
repetidos ao longo de anos
sentidos ao longo de séculos
de eternidades de rituais,
de celebrações e homenagens.
O calor de uma chama
sem tempo nem espaço.
Nela não somos...sós.
Não estamos perdidos
em nós mesmos.
Encontramo-nos
na energia que flui
na ponta dos dedos.
No amor que queima
os nossos corpos.


inacabado

img: Nitinha

fumos

O fumo ascende em colunas
vivas, sob a luz vinda do candeeiro.
Da côr de uma música deprimente.
Formas de pequenos demónios
que se movimentam ritmados
e dançando espalham-se pela sala
De olhos perspicazes procuram a falha,
o deslize de pálpebras que antecede o sono
o pé em falso de um sonho bonito
para, de súbito, arrastarem-nos de novo
para aqui, o seu dominio.
A realidade.

img: Worth

Esta Noite

sinto-me algo estranha (sabias?)
como se devesse estar lá fora
a dançar à chuva
com o vento no cabelo
e as estrelas a brilhar nos meus olhos


como se tivesse de erguer os braços
o mais alto possivel
alcançar alguma coisa
e chamar algo ou alguém


como se devesse largar
o maior dos suspiros
romper as barreiras
e voltar…algures


como se tivesse de ouvir
procurar com atenção
soltar a voz
e gritar

ontem à noite, hoje de madrugada


img: David Delamare- The Letter

dou-te o braço...e parto

dou-te o braço,
para que me toques
e agarres a vida
que escorre por entre os dedos
as lembranças que fluem do olhar,
dou-te a ferida em sangue e a faca do crime,
deixo-te a culpa e o remorso
engole-o com um gole de álcool
ou água, para abstémios de sentimentos
bébados de si mesmos




img: Sea Fairy- Home 6

Amplexo I

Topo a topo
construimo-mos
ensaiamos toques
e amplexos
Ósculamos a vertigem
tentamos tentações
boca e bocado
numa osmose de sensações

img: Elssie Russel- Anime

Ousadia

Puros são os passos
no molhado chão,
que pelo toque da minha mão
ligam-me aos teus traços
Nas ruas mudas,
que calaram de medo
cobriram o segredo,
e tornaram-se surdas
Aos meus lamentos,
Contenho os suspiros.
Lágrimas como tiros
lançadas aos ventos.
No som da calçada,
no seu cinzento eco,
não receio e peco
não irei ser enganada!
Olhos que interrogam
no topo das janelas,
que sabem elas
se na chuva não jogam(?)
Se nunca provaram
um ácido beijo
ou o doce desejo
se não lutaram...


Sei quem sou.
Já não peço o impossivel,
ainda anseio o incrível
Sou quem me procurou...

img: Ninoka ***...a ouvir Moonlight Sonata de Beethoven...***